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Celso Figueiredo
Cada rede social tem sua personalidade. Por um lado, ela se define por suas características, suas funcionalidades, seus diferenciais em relação aos concorrentes. Por outro lado, o que faz uma rede social são seus usuários, seu perfil, seus interesses e seus hábitos.
Recentemente, a revista Science Advances publicou um estudo, repercutido pelo portal El Pais, que demonstrou a correlação existente entre as mensagens postadas do Twitter e o roteiro de grandes desastres naturais – como o furacão Sandy, por exemplo. Os pesquisadores demonstraram a consistência entre o volume de mensagens, a frequência de post publicados por usuários que se encontravam no roteiro de passagem do furacão. Esse estudo é restrito ao território norte americano.
Será que esse fenômeno poderia ser observado em outros países, no Brasil em especial?
Para essa questão, diversas respostas podem ser formuladas. Essas respostas passam por diferentes fatores como a existência de sinal para transmissão dos posts, a posse de smartphones pela população e mesmo a habilidade para utilizá-los, já que sabemos que muitos usuários desses aparelhos ainda se limitam a funções básicas dos equipamentos.
Mas o fator mais relevante em nosso entender é o tipo de consumidores, e seus interesses ao utilizar cada rede social; enquanto nos EUA o Twiter é um canal utilizado por grande parte da população, com ampla diversidade de interesses, no Brasil, parte significativa dos usuários do Twitter pertencem a dois grupos prioritários: Jornalistas e fanáticos por notícias de um lado e celebridades e fãs de celebridades de outro.
Ambos os perfis se beneficiam da sensação de instantaneidade da rede social, mas diferem em seus interesses. Jornalistas caçam notícias, podem até ir atrás das informações, mas não são – em geral – fontes, ou testemunhas dos acontecimentos; são reativos aos fatos. Celebridades e seus fãs geram e consomem um outro tipo de notícia, em geral mais superficiais e limitadas que aquelas estudadas pelos pesquisadores da Science Advances.
Por esse motivo, uma eventual replicação do experimento no Brasil esbarraria em: falta de rede confiável, número limitado de usuários com posse e domínio do smartphone, tendência dos usuários a acessar em busca de ver a notícia e não para propaga-las e, bem, no Brasil não há furacões.
Celso Figueiredo é doutor em comunicação e semiótica e professor especialista em Mídias Sociais nos cursos de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie.