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*Celso Figueiredo
Já virou lugar comum dizer que o que mais falta ao Brasil é a educação. Nas redes sociais, contudo, essa ignorância ganha contornos de batalha campal. Polarização, Fla-Flu, coxinhas versus mandiocas.
Chame-se como quiser, o fenômeno mais presente nas redes sociais hoje – e que promete ainda perdurar ao longo do ano – é a oposição furibunda. De ambos os lados – e parece que são apenas dois, embora saibamos que são muitos – vemos comparações grotescas, ataques ad hominem (quando se ataca a pessoa e não sua atuação em cargo público) provocações, bravatas e agressivas ostentações.
Impeachment, olimpíadas, crise e eleições municipais são os ingredientes desse caldo com sabor de crise econômica e frustração de expectativas. Não faz muito pensávamos que éramos ricos, que o consumo garantiria a consistência da estabilidade, que viajando para Miami nos tornaríamos pessoas melhores, que carro novo ou roupas de grife seriam o necessário para que o mercado de trabalho nos abrisse as portas, pagando altos salários para desempenhos medíocres. Ledo engano.
A frustração de expectativas fermenta a insatisfação com o desempenho do governo. A tolerância ao mau feito se esgotou com o crédito nos bancos e a emoção invade a razão no ambiente das redes sociais. Não há espaço para desenvolver-se argumentos, debates, trocas de ideias e pontos de vista. O que se vê hoje é uma feroz catarse, um grito primal que, a exemplo do futebol, não precisa fazer sentido.
Entretanto, o ambiente virtual não permite vitupérios gratuitos como os comuns nas partidas de futebol. As redes sociais são, na maioria dos casos, assíncronas, isto é, o momento em que alguém posta uma mensagem é diferente do ambiente e do momento daquele que acessa a mensagem gerando aí uma miríade de desentendimentos, incompreensão e impropérios.
Falta mesmo a educação, não aquela assentada na polidez e nos bons modos, mas a outra, mais profunda, que ensina a diversidade e o respeito, a tolerância e o siso, o amor pelo próximo e a possibilidade de construção coletiva do conhecimento. É dessa que precisamos, mas estamos tão longe…
*Celso Figueiredo é doutor em comunicação e semiótica e professor especialista em Mídias Sociais nos cursos de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie.