Atualmente, ninguém sabe muito o que está acontecendo, menos ainda o que vai acontecer. Então, o melhor a se fazer agora é desenvolver “essa capacidade de troca”, “de conversar, de ter a cabeça aberta, e entender que vai ter um ‘novo normal’ — e esse novo normal vai depender muito da gente”.
A reflexão acima é do fundador e CEO da EB Capital, Duda Sirotsky Melzer — que já foi CEO e hoje é Chairman do Grupo RBS — e faz referência à situação de pandemia pela qual passa o mundo atualmente. O assunto, que incluiu o cenário empresarial na conversa, foi tema do intitulado “TIP Insights: Construção de valor em tempos de crise” de terça-feira, 19 de maio.
Comandado pela CEO e fundadora da Agência Ana Couto, a própria Ana Couto, o programa — dividido, a princípio, em cinco episódios (lives online) — busca conversar semanalmente com líderes de mercado para abordar questões como empatia e recursos humanos, mercado financeiro, relevância em tempos de crise, a força do ecossistema e o novo varejo.
Duda Melzer foi o encarregado por apresentar um olhar voltado para o mercado financeiro e de investimentos. Para ele, o ambiente atual está impondo uma série de novos comportamentos, bem como a necessidade de antecipar algumas questões, que já vinham como tendência e que estão sendo aceleradas.
Nesse sentido, a inserção, no cenário corporativo, do novo capitalismo foi um dos pontos altos da conversa do dia 19. Trata-se da necessidade de, hoje, trabalhar a união de lucro e propósito, e de pensar na prosperidade sustentável, no crescimento regenerativo, no mindset coletivo e em negócios centrados na sociedade ao invés de focar apenas nos resultados financeiros e no crescimento a todo custo. Trata-se, também, da adesão ao movimento conhecido como ESG (Environmental, social and corporate governance) que diz respeito a investimento de performance sob as óticas social, ambiental e de governança.
“O Brasil precisa romper essa visão de curto prazo versus a de longo prazo e entender que a gente vai precisar ter uma visão mais estrutural perante tudo. O investimento tem que ter uma orientação estratégica que compreenda algo que vá além de dobrar ou triplicar o capital”, ressaltou Eduardo Melzer. Apesar de ser um defensor de aumentar o capital, o empresário explicou que a necessidade é pensar em como fazer isso —“porque eu não quero fazer isso uma vez, eu quero fazer isso todas as vezes, e essa perspectiva de longo prazo tem que ter embutida nela esses aspectos mais contemporâneos, que interessam aos desafios da nossa época, da época dos nossos filhos. É aquela reflexão, nós vamos ter que escolher qual é o mundo que a gente deixa para os nossos filhos”, enfatizou o CEO da EB Capital.
Além disso, o diretor executivo acentuou que é fundamental pensar na questão da desigualdade, que é muito relevante para o País — “é ilusão achar que está tudo bem, se a minha empresa está indo bem”, pontuou. Bem por isso, trabalhar esse novo modelo de capitalismo é importante. Para Eduardo Melzer, a combinação perfeita, aqui — que, nas palavras dele, é “matadora”, é “campeã” — é a junção do lucro e do propósito.
“Nós [a EB Capital} nascemos em 2017 uma companhia de investimentos focada em ‘profit and purpose’ [termo em inglês para ‘lucro e propósito’]. E isso sempre guiou a nossa visão em relação a como a gente tem que dirigir os nossos investimentos”, contou o empresário
Durante o debate, também foram elencadas três ondas existentes dentro do mundo dos negócios em que é preciso pensar enquanto empresário — nas vendas e no lucro; na criação de relevância, valor da marca e conexões emocionais; e no propósito e engajamento. Para Duda Sirotsky Melzer, pensar apenas na primeira onda não é mais o suficiente.
“Se a gente não entender que isso aqui é pouco [lucro e vendas] — apenas básico — eu acho que a gente não vai ter aproveitado a oportunidade que a gente está tendo a duras penas […] de pensar no futuro”, avaliou o CEO. “A onda um é básica, necessária e insuficiente. A gente deveria sempre pensar nesse sistema integrado. Eu quero ser um empresário que vai até a onda três”, acrescentou Eduardo Melzer.
Auto declarado como um “super otimista por natureza”, o Chairman do Grupo RBS trouxe ainda o outro lado, o lado bom, desse momento de mudança e transformação — tão radical — como esse atual: ele “apresenta oportunidades fantásticas para novas lideranças irem surgindo”, avaliou Melzer.
Por fim, uma das últimas reflexões da conversa entre Duda Sirotsky e Ana Couto foi a respeito de que haverá um provável impacto de toda essa crise atual em três dimensões principais. A primeira “e, talvez, a mais importante” é em termos humanos, referente à transformação relacional — “desde um simples abraço, de um aperto de mão, até um aspeto social de relacionamento, de como é que eu convivo”, explicou o empresário.
A segunda é uma mudança da dimensão de trabalho — trata-se das incertezas sobre as relações profissionais e do surgimento dos novos formatos de trabalho. A terceira dimensão, por sua vez, é a perspectiva de consumo. “Somos parte de um ambiente altamente consumista e de um modelo de incentivo de consumo desvairado. E eu acho que a gente vai ter uma oportunidade de ter um consumo um pouco mais consciente a partir de agora [em termos de supérfluos e de desperdício, por exemplo]”, completou o fundador e CEO da EB Capital.
Além de Eduardo Melzer, Ana Couto também conversou, nas semanas anteriores — dia 7 e 12 de maio — com o Diretor de Recursos Humanos na CBF Academy, Marco Dalpozzo; e com o Sócio-Presidente da Tech4Kids, Fernando Chacon. Nas próximas semanas, dia 27 de maio e dia 2 de julho, o TIP Insights contará com a presença da Diretora Geral do Rappi, Ana Paula Bogus, e do Presidente do Conselho da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), Márcio Utsch.
Para acompanhar o papo completo com Duda Sirotsky Melzer, acesse “TIP Insights – Um outro olhar sobre o mercado financeiro”.
Website: http://www.eduardosirotskymelzer.com