Pesquisadores do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), em Itajubá (MG), estão prestes a concluir a construção do primeiro espectrógrafo de alta resolução brasileiro, denominado Steles (Soar Telescope Èchelle Spectrograph).
A expectativa é de que o equipamento – há tempos ansiado pela comunidade astronômica – possa ser instalado ainda no início de 2015 no Southern Observatory for Astrophysical Research (Soar), no Chile, consórcio internacional que reúne parceiros brasileiros, norte-americanos e chilenos.
“A espectroscopia de alta resolução é uma técnica que permite captar a luz do corpo celeste em observação – seja ele uma estrela, uma nebulosa ou uma galáxia – e separá-la em seus diversos comprimentos de onda. Dessa forma, é possível perceber as linhas de absorção da luz pelos diversos elementos químicos que constituem o objeto de estudo”, explicou Bruno Vaz Castilho, diretor do LNA e coordenador da equipe que projetou e montou o instrumento.
Por meio do estudo das linhas de absorção da luz, os astrônomos conseguem calcular, por exemplo, a quantidade de cálcio, ferro, titânio e outros elementos existentes na atmosfera de um corpo celeste. Também é possível descobrir sua massa, raio, gravidade, temperatura, velocidade de rotação e a existência de outros planetas ou estrelas em seu entorno.
“É uma técnica muito valiosa para a astronomia e equipamentos cada vez mais eficientes vêm sendo desenvolvidos em todo o mundo. O Steles conta com tecnologia de ponta, terá altíssima resolução e conseguirá captar a maioria dos fótons que chegarem até ele”, avaliou Castilho.
De acordo com o diretor do LNA, o equipamento custou R$ 2,5 milhões – dos quais R$ 1,2 milhão foi financiado pela FAPESP por meio do projeto “Steles: espectrógrafo de alta resolução para o Soar”, coordenado pelo professor Augusto Damineli, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP). O restante foi financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
“Para importar um equipamento equivalente, o custo não seria inferior a R$ 4 milhões. Além de mais caros, os espectrógrafos de alta resolução com tecnologia semelhante costumam ser maiores e mais pesados. Nosso desafio foi desenvolver, com os recursos disponíveis, um instrumento compacto, que pudesse ser acoplado ao telescópio Soar, cujo diâmetro é de 4,2 metros”, disse Castilho.
Composto por mais de 5 mil peças, cada uma projetada pelos pesquisadores do LNA, o Steles começou a ser concebido em 2003. Mas a construção, de fato, teve início apenas em 2008, contou Castilho.
“Até agora, os astrônomos brasileiros dependiam de parcerias com grupos estrangeiros e tinham de adaptar seus estudos aos instrumentos disponíveis. O Steles permitirá fazer a ciência avançar em várias áreas em que o Brasil tem pesquisas importantes, sobretudo porque o país tem direito a 30% do tempo de observação no telescópio Soar”, disse Castilho.
Damineli é um dos pesquisadores que deverão se beneficiar com o novo espectrógrafo. Há mais de 20 anos, o professor do IAG tem se dedicado a estudar, com apoio da FAPESP, fenômenos misteriosos que envolvem uma estrela gigante conhecida como Eta Carinae, situada a quase 8 mil anos-luz da Terra na constelação de Carina (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/19490).
Há cada cinco anos e meio, Eta Carinae sofre uma espécie de apagão. Ao estudar o fenômeno, o grupo de astrônomos liderado por Damineli descobriu a existência de um sistema binário no qual, de tempos em tempos, a estrela menor se choca com a estrela maior e abre um buraco em sua superfície.
O último evento ocorreu em julho deste ano e mobilizou mais de 30 cientistas e astrônomos amadores em observatório da Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Argentina, Chile e Brasil – além dos telescópios orbitais Hubble, Chandra e Swift, da Nasa.
Damineli acompanhou o evento do Observatório do Pico dos Dias, administrado pelo LNA, em Brazópolis (MG). O próximo apagão ele pretende acompanhar do Chile, com auxílio do novo equipamento que será instalado no Soar.