Hoje, muitas empresas são contrárias ao código aberto, mas por quê?
A tecnologia aberta é uma tendência que vai ganhar cada vez mais força, democratizando o acesso e ampliando muito as possibilidades de colaboração e a interoperabilidade entre as diversas plataformas.
Quando as pessoas assistem séries na Netflix, enviam arquivos pelo Dropbox, alugam um imóvel no Airbnb ou postam algo no Facebook ou no Instagram, elas estão usando softwares desenvolvidos com código aberto. O open source, termo em inglês que batiza o modelo desenvolvido na década de 1980, está presente na vida de todas as pessoas, mesmo que elas não tenham conhecimento disso.
Praticamente todos os smartphones rodam algum tipo de software com código aberto, seja no próprio sistema operacional ou nos aplicativos neles instalados. As smart TVs, os modems da TV a cabo, os roteadores, as câmeras de vigilância e vários outros dispositivos são desenvolvidos com open source.
Não existe mais computadores ou outros dispositivos que só conectem com um número limitado de plataformas, serviços e aplicativos. Todas as redes atualmente são baseadas na web. Praticamente todos os sistemas operacionais se comunicam uns com os outros. Estima-se que cerca de 90% dos aplicativos comerciais usem código aberto.
Isso significa que o código do software está disponível para download por qualquer pessoa. Esse modelo de desenvolvimento segue uma filosofia voltada para a colaboração. Quem o usa tem livre acesso e pode mexer no código à vontade e isso possibilita um grau enorme de personalização. As pessoas partem de uma base já construída e tem liberdade para modificá-la, acrescentando ou tirando as funcionalidades que desejar.
Muitas das tecnologias de ponta são desenvolvidas nesse modelo, incluindo a computação em nuvem, inteligência artificial (IA), blockchain e computação quântica. E essa é uma tendência que vai ganhar cada vez mais força. O código aberto democratiza a tecnologia e amplia exponencialmente a colaboração, a integração e a interoperabilidade entre as diversas plataformas.
A tecnologia aberta terá grande impacto nas próximas etapas de evolução. O 5G, por exemplo, amplia as possibilidades de serviços nos dispositivos móveis porque permite operações mais complexas, que exigem maior velocidade, assim como aumenta a capacidade e a faixa de espectros das redes, reduzindo as limitações que elas têm hoje em relação à quantidade de dispositivos conectados ao mesmo tempo e ao volume de transmissão de dados.
Ameaça à privacidade permanecerá
Como todas as mudanças disruptivas, a tecnologia aberta teve defensores obstinados e críticos implacáveis desde seu início. Muitas empresas ainda tentam controlar a tecnologia e desenvolver sistemas independentes, principalmente devido à preocupação com a segurança e a proteção de informações. Porém, a ameaça à privacidade de dados é uma questão que permanecerá por algum tempo.
Por mais que as pessoas e as empresas se dediquem a criar algoritmos para proteger suas informações, é praticamente impossível garantir que não sejam acessadas. Mesmo dados criptografados podem ser quebrados depois de algum tempo. Talvez o modelo quântico em desenvolvimento possa ser uma solução ao fazer com que as informações circulem mais rápido e sejam apagadas rapidamente tornando mais difícil capturá-las.
Mas por mais que as empresas desenvolvam softwares, critptografia e algoritmos para garantir segurança, os governos sempre terão como acessar as informações. Tudo, absolutamente tudo o que falamos ou escrevemos, todas as informações que circulam nas redes podem ser acessadas e gravadas para que depois alguém avalie se são relevantes ou não. Fazendo um paralelo, é como as transações em dólar. Sejam elas feitas em qualquer lugar do mundo, elas passam pelos Estados Unidos. A solução para a privacidade e proteção de dados não depende de tecnologia, mas de comportamento, da postura de cada um.
Hoje, mesmo muitas das empresas que eram contrárias ao uso de código aberto e desenvolveram seus sistemas próprios, fechados já percebem que têm mais benefícios quando se conectam e usam sistemas integrados. Até porque quando elas precisam enviar informações para unidades em outros países, não têm como escapar de usar redes baseadas em tecnologias abertas. A verdade é que, mais cedo ou mais tarde, as pessoas se dão conta que sistemas controlados por uma só pessoa ou entidade representam um risco maior e impedem a colaboração e a inovação.
A tecnologia é feita para melhorar e facilitar o dia a dia, para resolver coisas práticas e, para isso, quanto mais universal e aberta for, melhor. A linguagem única possibilita trocar informações em todos os níveis, desde receitas culinárias até o desenvolvimento de algoritmos.
Algumas comunidades restritas permanecerão para reunir pessoas que têm um interesse comum. Sempre será possível pegar parte das tecnologias universais e transformá-las por meio de códigos para que seja usada para fins específicos.
Em um mundo que funciona cada vez mais com softwares abertos e serviços em nuvem, a questão já não é mais se deve optar por usar tecnologia aberta ou fechada e, sim, o quanto aberto deve ser. Ao investir em projetos de código aberto, não estamos apenas contribuindo para democratizar e universalizar o acesso, mas também incentivando a colaboração para criar juntos as tecnologias do futuro que trarão vantagens para todos.
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