“Ainda estamos na internet discada de onde a inteligência artificial chegará”
Lak Ananth, CEO da next47 unidade de startups da Siemens,
fala a revista Època; Sobre inovação e discute como grandes e pequenas empresas podem trabalhar juntas.
Grandes empresas estão de olho no impacto das startups.
Isso deixou de ser novidade.
Mas há poucos meses, uma gigempresasante fundada em 1874 decidiu incorporar o mantra do “se não pode vencê-los, junte-se a eles”.
Em outubro do ano passado, a Siemens inaugurou uma unidade independente dedicada somente a apoiar jovens companhias com propostas inovadoras.
É a next47, batizada em referência ao ano de nascimento da empresa-mãe.
A iniciativa ainda dá seus primeiros passos.
A Siemens está colocando 1 bilhão de euros para serem gastos durante os primeiros cinco anos do projeto, que funcionará como uma espécie de incubadora.
“Percebemos que você precisa de um time com independência;
Que não seja influenciado pelas pressões do dia a dia”, diz Lak Ananth, CEO da next47.
“Trata-se de uma mudança de paradigma na forma de abordar a inovação.
” Em visita recente ao Brasil, ele falou sobre como grandes e pequenas empresas podem trabalhar juntas e discutiu o impacto que ainda terão tecnologias como a inteligência artificial.
Por que a Siemens decidiu criar uma unidade separada para startups?
A gente percebeu a importância da “inovação externa”.
Não adianta só dizer, internamente, “tal coisa vai acontecer, portanto, vamos buscar essas e aquelas oportunidades”. Temos de inverter as coisas.
Mudar a visão “de dentro para fora” para “de fora para dentro”.
Ou seja, quais são as inovações mais interessantes no mercado?
Quais delas realmente importam para os nossos consumidores?
Como podemos adotá-las?
A Siemens percebeu que você precisa de um time com independência, que não seja influenciado pelas pressões do dia a dia.
A ideia é olhar para o horizonte de longo prazo.
Trata-se de uma mudança de paradigma na forma como as empresas abordam a inovação.
Sem essa independência, você estaria perdendo muitas oportunidades.
Como as parcerias com as startups vão funcionar? Vocês não vão comprá-las, certo?
Haveria vários riscos envolvidos em comprar várias startups.
Já estamos colocando 1 bilhão de euros na next47 ao longo dos próximos cinco anos.
Ainda é uma gota no oceano, mas a ideia é participar das startups de uma forma inteligente, para que tenhamos a chance de ser parte só das melhores globalmente.
Antes de comprarmos algo ou decidirmos mergulhar 100% em um novo mercado, temos a chance de conhecer os negócios na next47.
Talvez as melhores empresas do mundo tenham capacidade de fazer dez aquisições por ano.
Só que há 10 mil novas startups sendo criadas todos os anos.
Como você descobre quais são as dez mais interessantes?
Além disso, é difícil pegar uma empresa pequena, que cresce rápido, e colocar dentro de um negócio bilionário, dentro de uma grande empresa.
Por isso, oferecemos a chance de a companhia crescer e alcançar seu potencial antes de ser colocada dentro de uma grande empresa.
“Daqui a 20 anos, estaremos em um mundo completamente diferente, com máquinas fazendo muitas coisas que humanos não gostam de fazer.”
O que faz a next47 querer apostar em um startup?
Uma variedade de fatores.
Em primeiro lugar, ela tem de se encaixar em uma das grandes categorias onde a Siemens atua — energia, indústria, e infraestrutura.
Hoje, estamos em Palo Alto, Boston, Israel, Londres, Munique, Xangai e Pequim.
Provavelmente vamos para outros lugares — temos uma presença bem fortes no Brasil, Índia e Rússia, por exemplo.
Estamos pegando as melhores ideias desses mercados específicos.
Nós nos perguntamos: “Quais são as ideias mais promissoras e que têm potencial de longo prazo?”. Sabemos que não somos os únicos que podem ver aquilo.
Em cada localidade, trabalhamos com outros investidores.
Também vemos o potencial de mercado do empreendedor, o tamanho do mercado que é alvo dele.
Com base na experiência do senhor, diria que esses jovens empreendedores são a resposta para os problemas do futuro?
O ecossistema de empreendedores está ficando maior.
Esse é um fenômeno que estamos, de fato, vendo.
Acho que cada vez mais e mais grandes ideias estão vindo de fora de empresas maiores.
Mas essas empresas maiores ainda têm um importante papel e movimentam o mercado de uma forma que as pequenas companhias não conseguem.
Uma empresa como a Siemens tem presença e influência em muitas áreas e localidades ao redor do mundo.
Empresas jovens admiram isso.
Mas a melhor coisa que uma grande empresa pode fazer é ser parte da mudança e encorajá-la.
Nós podemos gerar um impacto maior, ampliar essas mudanças.
Uma pequena empresa sozinha pode trazer boas ideias e apontar a direção.
Qual é a diferença da inovação que virá da next47 e a da Siemens?
Uma complementa bastante a outra.
Gente que não tem um legado de negócios ou um relacionamento com cliente para se preocupar é capaz de pensar sobre problemas de um jeito muito diferente e se movimentar numa velocidade muito diferente do que seríamos capazes em qualquer grande empresa.
Agora, se você está construindo uma turbina a gás, nós somos os melhores do mundo.
Para continuar melhorando aquela tecnologia, contudo, estamos pegando ideias de fora.
Quando se trata de inovação, há uma tecnologia específica que o senhor acredita que terá um impacto muito marcante?
A inteligência artificial.
Na semana passada, fui em um evento em São Francisco e eu fiz uma analogia.
Quando eu comecei a usar a internet, ela ainda era discada.
Você tinha de usar uma linha telefônica para conectar.
E a internet era extremamente devagar.
Assim eu usava a internet quando fui para a universidade.
Era só o começo dos anos 1990.
Agora, a velocidade é 20 mil vezes muitas vezes maior.
No seu celular! Quando eu estava em Machu Picchu, pude ficar respondendo e-mails de lá.
Não que isso seja algo bom, mas essa é a internet.
Mudou vidas para melhor.
Criou muitas novas empresas.
E como isso se relaciona com a inteligência artificial?
Boa parte da história da computação tem sido estabelecer regras para que o computador siga.
Essa é a história da automação até hoje.
A inteligência artificial pode mudar isso.
Se você mostra para o computador vários cachorros, ele começa a reconhecer cachorros.
E isso é muito diferente do que escrever uma série de regras para o computador.
Você está entrando em tarefas cognitivas — e entrando em coisas que seres humanos talvez não gostem de fazer, mas têm de fazer, porque hoje conseguem fazer melhor do que uma máquina.
Algumas atividades mecânicas são difíceis de automatizar porque há muita variação.
Com isso, humanos acabam fazendo muitas ações repetitivas, como dirigir.
Acredito que ainda estamos na época da internet discada da inteligência artificial.
Daqui a 20 anos, estaremos em um mundo completamente diferente, com máquinas fazendo muitas coisas que humanos não gostam de fazer.
Fonte: http://epocanegocios.globo.com
Créditos: Edson Caldas