Os dados revelados pelo Censo 2013 do Setor de Tecnologia da Informação, desenvolvido no Brasil pela Assespro Nacional, em cooperação com a ALETI (Federação das Entidades de TI da América Latina, Caribe, Portugal e Espanha) confirmam uma verdade que incomoda: o Brasil é o país que menos exporta em toda América Latina e Península Ibérica.
Os números são preocupantes: 83% das empresas brasileiras de TI não realizam qualquer tipo de exportação e dentre as que vendem para o mercado externo, apenas 2% alcançaram 30% ou mais da receita com esse tipo de negociação. Até mesmo países pouco representativos da América Latina conseguem resultados mais expressivos do que os obtidos pelas companhias brasileiras.
Vender para o mercado interno possui vantagens, mas em um setor tão competitivo como o de tecnologia de informação é necessário que mais empresas brasileiras possam exportar suas soluções para que o país possa estar presente no cenário global. Além de ampliar o leque de receitas, a prática acelera o desenvolvimento tecnológico, e a capacidade de atendimento das empresas. Ainda, o país se beneficiaria com a chegada de investimentos e profissionais estrangeiros dos mais qualificados.
Algumas barreiras ainda precisam ser quebradas para que o Brasil possa exportar soluções de tecnologia de informação. A primeira é a questão cultural: por parte dos compradores, as grandes empresas muitas vezes preferem soluções de classe mundial, importadas. O software nacional fica em segundo plano, no total do mercado interno, e não possui o estímulo necessário para receber investimento e concorrer com empresas de fora.
Como consequência, o nível de pesquisa e inovação praticado e muito baixo, e tudo o que é produzido acaba ficando no país, concorrendo com produtos estrangeiros (que recebem esse tipo de apoio em seus países de origem). A ineficiência ou inexistência de políticas públicas do governo para a exportação também contribui para esse fato.
Surge então o terceiro obstáculo para as exportações das empresas brasileiras de TI: a inovação brasileira é do tipo mercadológica, isto é, se vende o que é inovação para o cliente, mas não para o produtor da tecnologia. O Brasil precisa ousar, e partir para a inovação agressiva em maior escala, desenvolvendo soluções realmente inovadoras. É preciso criar algo que se transforme em um desejo de consumo, pois é isso que gera receita e garante vendas para outros mercados.
Em um mundo onde a inovação tecnológica é cada vez mais competitiva, as empresas brasileiras precisam passar essas barreiras e entrar em outros países. Só assim elas garantirão a sua sobrevivência no futuro e conseguirão as receitas necessárias para não ficarem para trás nessa intensa guerra global que envolve a área de TI.
*Roberto Carlos Mayer é presidente da ALETI (Federação das Entidades de TI da América Latina, Caribe, Portugal e Espanha) e vice-presidente de Relações Públicas da Federação das Associações de Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro Nacional).