João Farkas leva fotografias inéditas para exposição em Londres
Resultado de dois trabalhos aprofundados e inspirados por causas fortes, como todos os que levam a assinatura do fotógrafo João Farkas, a exposição ´Brazil – Land & Soul Land´ será aberta na embaixada brasileira de Londres no dia 1º de novembro, onde ficará por mais de um mês.
“Receber o convite para expor fora do país é uma oportunidade de mostrar para o mundo a fotografia brasileira, que é uma das mais fortes, significativas e criativas”, comenta Farkas.
Em ´Brazil – Land & Soul´, artista mostra imagens do ensaio ´Caretas de Maragojipe´ e da nunca antes vista série ´Pantanal´.
Na exposição, o fotógrafo mostrará 40 imagens inéditas da série ´Pantanal´, todas registradas nos últimos cinco anos com o propósito de servir como mensagem sensível de alerta.
“A beleza estrondosa dessa região brasileira é tida como distante, intocada e indestrutível.
O que não é verdade. Lá também sentem-se os efeitos do antropoceno, a ação profunda do homem sobre o planeta”.
Também estarão lá fotos do ensaio ´Caretas de Maragojipe´, construído através do registro das máscaras de Carnaval da cidade de Maragojipe (BA) no período de cinco carnavais.
Ensaio este, aliás, que serviu como base visual para a concepção do Museu do Carnaval, inaugurado em Salvador no ano passado, com projeto e curadoria de Gringo Cardia.
Farkas também lançará novo livro durante a mostra e, em seguida, na Paris Photo
´Pantanal´
Antes de ser convidado a iniciar os primeiros registros da série, em 2014, João Farkas imaginava que o único atrativo dessa região seria o avistamento de animais como jacarés, onças e tuiuiús.
“Então pensei: o Pantanal já está suficientemente fotografado.
Não precisa de mais um documento.
Mas minha surpresa foi brutal e resultou num trabalho extenso e muito diferente do que eu fizera até então”, conta, 25 anos depois da realização de sua a famosa série ´Amazônia Ocupada´ (1984 a 1993), cujo viés fortemente fotojornalístico é uma das características que a diferencia de ´Pantanal´.
Na trabalho exposto em Londres, Farkas busca chamar a atenção para a beleza e a variedade paisagística do Pantanal e, simultaneamente, também para suas ameaças silenciosas.
Elas vêm das mudanças climáticas e da forma como os rios dos planaltos no entorno têm sido tratados. “Percebi que seria muito mais efetivo trabalhar pela sensibilização estética.
Transmitir aos outros um pouco do alumbramento que eu mesmo experimentei ao conhecer melhor o Pantanal.”
E quando Farkas diz conhecer melhor, os número comprovam que ele foi fundo.
Em oito expedições feitas nesses últimos anos, percorreu cinco mil quilômetros de carro, barco, voadeira e pequenos aviões monomotores, fez cerca de 40 voos quase sempre de carona e realizou estimadas 16.000 imagens.
Com concepção de Marina Willer, brasileira que está entre os maiores designers do mundo e é sócia da Pentagram/Londres, a montagem da mostra na embaixada é inovadora: as imagens de ´Pantanal´ foram colocadas no chão sobre praticáveis para que as pessoas passeiem entre as fotos olhando sempre de cima, uma vez que grande parte das imagens foram feitas do avião.
Vale ressaltar que Farkas evitou o clichê.
“Era necessário fugir das imagens já vistas do Pantanal.
Olhando para a paisagem de forma muito atenta, profunda e sintonizada, me deixei envolver e embeber por aquela fluidez, aquelas combinações de cores absolutamente surpreendentes, as transparências, os reflexos e aquela imensidão horizontal, com suas transições entre terra seca, molhada ou submersa e as lagoas e leitos de rios.
Também trabalhei muito a exposição para altas ou altíssimas luzes diretamente contra os reflexos”, explica o fotógrafo que está preparando um livro sobre a série, com desenho e concepção de Kiko Farkas, e também um documentário dirigido por Jorge Bodanzky.
‘Caretas de Maragojipe’
Verdadeira sagração à cultura popular de Maragojipe (BA), em ´Caretas´ Farkas traz um registro da criatividade e resistência cultural que ele encontrou durante diversas viagens feitas à cidade. “É um registro puro e, ao mesmo, muito poderoso”, explica.
No lugar de padrões coloristas importados, que reproduzem modelos cromáticos que, na opinião dele, não condizem com a história do povo brasileiro, João Farkas preferiu seguir a linha de uma tradição ligada à arte que as ruas do Brasil inventam e reinventam, uma liberdade secular com raízes africanas que Pierre Verger e Marcel Gautherot fixaram em muitos tons de cinza. Só que Farkas foi no caminho das cores.
Liberdade cromática
“Acredito que nenhum povo do mundo tem a intimidade e a liberdade cromática que o brasileiro tem. Não sei se vem da luz, das cores do céu, das árvores, das frutas ou da mistura de peles.
Talvez do fato de termos esta inocência cultural esta aceitação pelo que é simplesmente belo e nos rodeia, e pelo que é outro, diferente e instigante.
Acho que ninguém é tão íntimo e familiar na apropriação da palheta infinita que se nos oferece.”
Este ensaio também deu origem a um livro que será lançado em Londres na mesma ocasião.
A publicação ´Caretas de Maragojipe´ (Ed. Martins Fontes/2018) inclui um texto do curador e crítico de arte Agnaldo Faria sobre a questão da arte e criatividade fora dos círculos “cultos”.
Em seguida, o livro também será lançado na Paris Photo.
Serviço
Brazil – Land & Soul / João Farkas + Lançamento do livro ´Caretas de Maragojipe´
Data: 1º de novembro a 7 de dezembro de 2018
Local: Embassy of Brazil [Londres] – 14-16 Cockspur St, St. James’s, London SW1Y 5BL, Reino Unido
Lançamento do livro ´Caretas de Maragojipe´ na Paris Photo
Data: 8 a 11 de novembro de 2018
Local: Grand Palais Paris – 3 Avenue du Général Eisenhower, 75008 Paris, França
João Paulo Farkas
João Paulo Farkas sempre esteve em contato com a fotografia.
Após graduar-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo, Farkas mudou-se para Nova York onde estudou no International Center of Photography e na School of Visual Arts.
Foi fotógrafo correspondente das revistas Veja e IstoÉ, onde também trabalhou como editor de fotografia, e tem seis livros publicados. Ganhou o prêmio ABERJE e Bolsa Vitae de Artes/Fotografia.
Seus trabalhos fazem parte de importantes acervos e museus brasileiros, além de estarem no acervo do ICP (International Center of Photography/NY) e da Maison Européenne de la Photographie, em Paris e na Coleção da Tulane University, New Orleans.